O encerramento do XI Seminário de Planejamento Estratégico Sustentável do Poder Judiciário 2024 (XI SPES), nesta sexta-feira (14), teve um debate sobre iniciativas lideradas por mulheres no campo da economia circular – conceito que associa desenvolvimento econômico a um melhor uso de recursos naturais – e um relato sobre solidariedade vivenciada nas enchentes que assolaram o Rio Grande do Sul em maio.
Promovido pela Assessoria de Gestão Sustentável do Superior Tribunal de Justiça (STJ) desde 2014, o SPES tem como objetivo fomentar a Agenda 2030 e seus Objetivos de Desenvolvimento Sustentável na administração pública. O evento aconteceu de forma online e está inteiramente disponível no canal do STJ no YouTube.
O painel "Elas na economia circular" teve a participação de três mulheres que estão à frente de iniciativas dedicadas ao desenvolvimento de soluções alternativas e sustentáveis para o modelo atual de produção.
A primeira a falar foi a coordenadora-geral de Bioeconomia e Economia Circular do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Sissi Alves da Silva, que integra um grupo de trabalho desenvolvido pelo órgão com o mesmo nome do painel. A iniciativa reúne mulheres de diversos segmentos que trabalham com economia circular para propor um plano de atuação mais amplo.
"As mulheres, principalmente aquelas que são periféricas e negras, são as que mais sofrem com os impactos do sistema econômico vigente. As iniciativas circulares e o manejo de resíduos têm o potencial de oferecer oportunidades econômicas e de liderança para elas, especialmente em empreendimentos sociais e ambientais", observou Sissi Alves da Silva.
Em seguida, Beatriz Luz, fundadora e CEO da Exchange4Change Brasil, organização que presta consultoria especializada em transição para economia circular, afirmou que dados da Europa já apontam para a criação de aproximadamente 18 milhões de empregos baseados no modelo de circularidade, até 2030.
"Estamos falando de um novo modelo macroeconômico de produção e de consumo. É um modelo de economia que trará respostas para as três grandes crises da nossa sociedade: os riscos da mudança climática, a alta geração de resíduos e a perda da biodiversidade", detalhou.
Coordenadora do projeto de descarbonização da indústria do Instituto Clima e Sociedade (iCS), Victoria Santos destacou o papel da mulher dentro da lógica colaborativa da economia circular.
"O impacto do auxílio profissional às mulheres é muito maior para a comunidade em que ela vive, porque ela fica lá e cuida de todos. A valorização do feminino nas organizações passa por isso e é essencial trazê-las para o centro do debate", declarou Victoria Santos.
Encerrando o evento, o quadro "Histórias que transformam" abordou a experiência de Nelsa Nespolo, presidente da Cooperativa de Costureiras Unidas Venceremos (Univens) e criadora da cadeia de produção têxtil baseada no algodão agroecológico Justa Trama. Ela contou como surgiram as iniciativas – que atualmente geram empregos em cinco estados brasileiros – e detalhou o impacto sofrido por ela e pelos demais cooperados durante as enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul, onde estão sediadas essas instituições.
Nelsa Nespolo revelou que passou 15 dias fora de casa, mas reuniu esforços a partir das cooperativas para arrecadar doações em favor dos desabrigados. "Foi um período intenso de solidariedade, quando as cooperativas se tornaram a grande referência dessa comunidade. Hoje temos mais de 1.100 famílias cadastradas que receberam ao menos três cestas básicas", contou.
Ao fazer um balanço sobre o XI SPES, a assessora-chefe de Gestão Sustentável do STJ, Ketlin Feitosa, celebrou o fato de o evento ter sido o primeiro do tribunal inteiramente composto por mulheres e pensado de forma a respeitar a paridade racial.
"A representatividade desse momento não pode ficar em um só ato. É preciso levar esse exemplo para nossas instituições e pensar em transformar nossos ambientes de trabalho em locais mais inclusivos e menos desiguais", ressaltou a titular da Assessoria de Gestão Sustentável.