O Superior Tribunal de Justiça (STJ) deu início, na manhã desta quinta-feira (16), ao seminário Aspectos Jurídicos do Mercado de Carbono no Brasil. O evento, que acontece no auditório externo do tribunal, com transmissão ao vivo pelo canal do STJ no YouTube, reúne especialistas em um debate sobre a regulamentação do mercado de carbono no país.
Organizado em parceria com a Advocacia-Geral da União (AGU) e o Conselho da Justiça Federal (CJF), o encontro aborda questões legais, econômicas e ambientais relacionadas ao Sistema Brasileiro do Comércio de Emissões (SBCE) e às oportunidades criadas pelo mercado voluntário de carbono.
Antes do início do evento, foi feito um minuto de silêncio em solidariedade às vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul.Na mesa de abertura estavam o ministro do STJ Ricardo Villas Bôas Cueva, responsável pela coordenação científica do evento com o ministro Herman Benjamin; a ministra do Meio Ambiente e da Mudança Climática, Marina Silva; o advogado-geral da União, Jorge Messias; o deputado federal Aliel Machado e o diretor jurídico do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Walter Baère.
Ao dar as boas-vindas aos presentes, Villas Bôas Cueva apontou que a realidade não mais permite que os debates se limitem às tradicionais discussões do direito ambiental. Para o ministro, é necessário incluir nas discussões do direito da mudança climática as novas ferramentas do mercado de carbono.
"Sem uma regulação transparente, que contenha mecanismos claros de governança e que garanta credibilidade aos títulos de crédito e valores mobiliários, não há como haver mercado de carbono eficiente", afirmou.
Em participação por vídeo, o ministro Herman Benjamin ressaltou a necessidade de se debaterem questões relacionadas ao marco regulatório, diante da urgência imposta pelas contingências climáticas. "O marco regulatório deve ser consistente na substância e preciso nas medidas adotadas", disse Herman Benjamin.Em seu discurso, a ministra Marina Silva se solidarizou com o povo gaúcho e comentou que todos já estão vivendo sob os efeitos da mudança climática. Ao mencionar a regulamentação do mercado de carbono, a ministra declarou que o sistema combina a descarbonização com o crescimento econômico. "A avassaladora crise climática é, ao mesmo tempo, um espaço de dificuldades e de abertura para um novo ciclo de soluções baseadas na natureza e comprometidas com a ética", disse.
O advogado geral da União, Jorge Messias, disse que, embora haja um alto grau de engajamento das lideranças globais, muito pouco tem sido feito de concreto para mudar a realidade. Ele também apontou que a adequada implementação do modelo de mercado de carbono deve levar em consideração, além dos aspectos econômicos, os sociais, "já que o processo de mudanças climáticas pressiona principalmente as populações mais vulneráveis".
Por outro lado, o deputado federal Aliel Machado, relator do Projeto de Lei 412 na Câmara dos Deputados, elencou os desafios de relatar um projeto que traga segurança jurídica e previsibilidade, e que concilie as diversas perspectivas dos representantes do povo na casa legislativa. "A lógica do mercado de carbono é criar uma alternativa que agregue a urgência da realidade atual às necessidades do que é possível ser feito no momento", concluiu.
Já para Walter Baère, representante do BNDES, a agenda do clima demanda investimentos em infraestruturas resilientes para prevenir e reconstruir áreas afetadas por eventos extremos, de forma a gerar oportunidades econômicas de desenvolvimento. "Uma nova estratégia industrial relacionada à agenda climática é uma oportunidade histórica de geração de valor para nossas cadeias produtivas", declarou.
O primeiro painel da manhã discutiu os aspectos relacionados ao PL 412, que regulamenta o Mercado Brasileiro de Redução de Emissões. Com moderação do ministro Villas Bôas Cueva, o painel teve a participação de Rodrigo Rollemberg (secretário de Economia Verde, Descarbonização e Bioindústria) e de Estêvão Gomes (advogado do BNDES) como debatedores.
Para Rollemberg, a agenda regulatória estabelecida pelo SBCE vai oferecer condições para que o Brasil viva uma nova fase de desenvolvimento e de industrialização. Embora reconheça a existência de desafios resultantes do projeto de lei, Rollemberg declarou que a regulamentação é inadiável: "O tema, além de indispensável, é urgente".
Ao citar iniciativas como o Fundo Clima e o Fundo Amazônia, Estevão Gomes explicou que o Brasil pode se tornar um ator relevante no mercado mundial de crédito de carbono, já que tem capacidade de captar cerca de 15% do conteúdo global de carbono por meio de suas florestas. "O PL pode dar início ao desenvolvimento de um enorme potencial econômico, de geração de renda e de emprego ligados ao mercado de carbono".