Em cerimônia realizada no Supremo Tribunal Federal (STF) na noite desta quarta-feira (16), o Superior Tribunal de Justiça (STJ) recebeu o Selo Linguagem Simples, reconhecimento do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aos esforços dos órgãos do Poder Judiciário para implementar uma linguagem mais compreensível em seus documentos e sua comunicação com a sociedade. O STJ foi o único tribunal superior a receber o selo neste primeiro ano da certificação.
O selo surgiu como resultado do Pacto Nacional do Judiciário pela Linguagem Simples, no qual os tribunais assumiram o compromisso de melhorar a comunicação com os cidadãos, inclusive ampliando as formas de acessibilidade.
A ministra Maria Thereza de Assis Moura representou o STJ no evento. Também participaram da cerimônia, entre outras autoridades, o presidente do STF e do CNJ, ministro Luís Roberto Barroso; o procurador-geral da República, Paulo Gonet; o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski; e o advogado-geral da União, Jorge Messias.
O ministro Barroso afirmou que o mundo do direito evoluiu para afastar a ideia de que uma linguagem "ininteligível" é sinônimo de conhecimento e de erudição. "Quem sabe do que fala, fala com simplicidade", declarou.
Barroso comentou que o uso de palavras e expressões complexas, distantes da linguagem comum, impede a participação de todas as pessoas no debate público e dificulta a comunicação com a sociedade."Não é preciso chamar o STF de ##pretório## excelso, ou o habeas corpus de remédio heroico, ou presídio de ergástulo público. Nosso esforço deve ser para utilizar uma linguagem que as pessoas possam compreender", disse o ministro.
Ao falar em nome dos órgãos judiciais agraciados na cerimônia, a ministra Maria Thereza de Assis Moura descreveu o Selo Linguagem Simples como um símbolo da busca da Justiça pela aproximação com a sociedade.
A ministra destacou que, para a concessão do selo, não apenas a simplificação da linguagem foi avaliada, mas também se consideraram outros fatores, como a brevidade nas comunicações, as ações de educação e conscientização sobre o tema e a articulação das instituições com a sociedade.
"Esses aspectos são essenciais para que possamos avançar na construção de um Judiciário que não apenas resolva conflitos, mas também seja parceiro da sociedade ao garantir clareza e transparência em suas decisões, sem os obstáculos que impedem as pessoas de exercer os seus direitos", apontou.
Nesta primeira edição, 48 tribunais receberam o selo. Ao lado do STJ, foram agraciados 23 Tribunais de Justiça estaduais, dez Tribunais Regionais do Trabalho, nove Tribunais Regionais Eleitorais, dois Tribunais de Justiça Militar e dois Tribunais Regionais Federais, além do Conselho da Justiça Federal (CJF).
As práticas foram analisadas em cinco eixos: simplificação da linguagem nos documentos; brevidade nas comunicações; educação, conscientização e capacitação; tecnologia da informação; e articulação interinstitucional e social.
No STJ, o laboratório de inovação do tribunal – o STJ Lab – esteve à frente do desenvolvimento de projetos fundamentados nos princípios de linguagem simples e visual law (uso de recursos visuais para facilitar a compreensão de mensagens na área do direito).
Uma dessas iniciativas foi o aprimoramento dos ofícios da Secretaria de Processamento de Feitos, do Núcleo de Gerenciamento de Precedentes e de Ações Coletivas e da Assessoria de Apoio a Julgamento Colegiado. Outra foi introduzir explicações simplificadas nas páginas de andamento processual.
A terceira iniciativa foi a criação de um ambiente mais intuitivo e transparente para o peticionamento eletrônico nos fins de semana e feriados.
Além dessas iniciativas, em março de 2022, a Secretaria de Comunicação Social colocou em funcionamento o Glossário STJ, que traz explicações para termos jurídicos utilizados no noticiário do site do tribunal. Dois anos depois, as matérias sobre decisões judiciais passaram a ser acompanhadas por um resumo, escrito para quem não é familiarizado com assuntos jurídicos.
No caso dos resumos em linguagem simplificada, o objetivo da secretaria foi oferecer uma solução que contemplasse as pessoas interessadas em um texto mais simples e enxuto, sem deixar de atender, por outro lado, àqueles que estão mais habituados à comunicação jurídica e que buscam se aprofundar nos temas noticiados.